sábado, 31 de julho de 2010

Dietas hiperproteicas e sem carboidrato são ideais para perda de peso?




Muito se discute a respeito das dietas com grande concentração proteica e com pouco ou nada de carboidratos. Tais dietas popularizaram-se com o mito de que são as grandes aliadas para a perda de peso e, também, para o ganho de massa muscular. Sem dúvida alguma as dietas com restrições glicídicas (carboidratos) favorecem a perda de peso, e rápido, mas, que peso é este que está esvaindo-se? A resposta é simples e clara...ÁGUA e os tão preciosos músculos. 
Entendemos melhor assim: cada grama de carboidrato carreia para dentro do músculo cerca de três gramas de água para manter as reservas de energia do músculo, o glicogênio, em sua plena concentração. Sem carboidratos na dieta há uma menor concentração de água nos músculos e, assim, menor peso na balança. Então, o músculo sem opção de utilizar seu substrato energético primordial (carboidrato) passa a utilizar como fonte de energia os ácidos graxos livres circulantes (gorduras), a glicose oriunda da quebra do glicogênio hepático (reserva de açúcar do organismo), que é limitada e os aminoácidos (matéria prima das proteínas), provenientes da quebra dos próprios músculos. Então, ao restringir carboidratos você perderá músculos? Sim, indefectivelmente.
As dietas restritivas de carboidrato são uma boa opção para a perda de peso em um curto período, porém, são melhores ainda para recuperar tudo, e um pouco mais, em um tempo assustadoramente rápido. Este tempo para o ganho de peso é menor até que o despendido para a perda. É tal do efeito sanfona! O organismo entende que a restrição de carboidratos é, por um fator genético, um período de escassez e que passada esta fase será hora de armazenar. E forma de armazenamento energético do organismo humano é no tecido adiposo, ou seja, gordurinhas a mais de brinde para você!
Este efeito pode ser explicado pelas condições ambientais que nossos antepassados eram submetidos há dezenas de milhares de anos atrás. Durante o verão, o homo sapiens daquela época ostentava uma dieta abundante em frutas e grãos, ou seja, rica em carboidratos. Durante o inverno, os hidratos de carbono tornavam-se escassos e os homens e mulheres das cavernas passavam longos períodos sem comer, ou então, eram submetidos à dietas cetogêgincas (somente proteína e gordura das carnes) e com isso, perdiam muito peso. E chegada a hora de reutilizar os carboidratos no próximo verão, com seus corpos ávidos por açúcar, o organismo armazenava instintivamente o máximo de nutrientes que podia na forma de gordura, já que iria passar por longos períodos de escassez de alimentos novamente.
Ah, ok, mas você não vive nas cavernas e vai continuar com sua dieta da proteína porque perde peso rápido e define a musculatura. Será? A curto prazo pode ser, mas, e a longo prazo? Vejamos o exemplo dos esquimós, seguidores fiéis da dieta de Atkins (cardiologista que inventou a dieta da proteína) mesmo sem ter ideia de quem ele era. Eles se alimentam basicamente de peixe, foca e baleia. São pessoas de estatura baixa, nada magrinhos e são raros os carboidratos encontrados em suas dietas. Por este parâmetro poderíamos dizer que a dieta da proteína não deixa ninguém magro à longo prazo. O curioso a respeito destes indivíduos é que apesarem de ingerirem muito mais gordura que do que qualquer indivíduo obeso do ocidente, são raros os casos de doenças cardíacas nesta população. Isso é explicado pela qualidade da gordura que eles ingerem, que são gorduras mono e polinsaturadas, oriunda dos peixes de água fria e focas, ambos ricos em óleos essenciais ω-3, que favorecem a diminuição do LDL-colesterol. Agora, pergunte ao Atkins se a dieta dele é boa para a saúde. Acho meio difícil, pois ele morreu de problemas do coração há anos. Será que foi por causa da dieta que ele tanto defendia? 
O segredo para a manutenção do peso é o equilíbrio entre consumo e gasto calórico. Já  para a perda de peso, o gasto calórico deve prevalecer sobre o consumo. Mas, não são somente estes fatores que influenciam na composição corporal e na perda de peso, pois, a qualidade dos alimentos tem demasiada importância neste processo e, obviamente, a atividade física.
Portanto, priorize sempre por carnes magras, carboidratos complexos (integrais), frutas, legumes, verduras, oleaginosas e, claro, muita àgua. Utilizes-os em detrimento dos alimentos ricos em açúcar e farinha refinados, frituras, carnes gordas, refrigerantes e alimentos industrializados em geral.
Não se preocupe com rótulos ou mitos nutricionais. Se você se sente bem fazendo dietas hiperproteicas e com restrição de carboidratos, ótimo! Porém, realize rotineiramente exames bioquímicos para avaliar indicadores da funcionalidade dos rins e do fígado, que são os principais metabolizadores do excesso de proteínas. Cheque também a concentração de lípedes plasmáticos (LDL, colesterol total e triglicérides), pois, estas dietas geralmente são ricas em gorduras saturadas, o que a longo prazo, não é tão interessante para a sua saúde.
O segredo está na moderação alimentar. Com bom senso, praticamente todos os alimentos são permitidos, até mesmo em uma dieta para perda de peso. Esteja atento aos sinais que seu corpo lhe informa, pois cada organismo é único e não existe dieta ideal para ninguém, há apenas recomendações saudáveis que atinjam uma grande quantidade de pessoas.



Autor: 
Bruno Brancalion
CRN3: 30.936
Consultor em Nutricão e Qualidade de Vida

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